Eles deveriam pedir desculpas, de joelhos
SIDNEY GOLDENZON
Minha filha de sete anos estuda em um bom e caro colégio particular no Rio de Janeiro. No último dia 10 recebi uma carta do colégio onde ela cursa a primeira série do ensino fundamental, solicitando uma “informação autodeclaratória” para atender à Portaria n 156, do Ministério da Educação (emitida em 20/10/2004), que objetivaria coletar dados para o programa “Mostre sua raça — declare sua cor”, com prazo de devolução até 13/05.
Quase não pude acreditar no que estava lendo. O formulário, além da minha identificação e da minha filha, perguntava, em forma de múltipla escolha, qual a sua cor/raça: amarela, branca, indígena, parda ou preta, além de uma última opção — “opto por não declarar neste momento tal informação”. O MEC estava pedindo para uma menina de sete anos “autodeclarar” sua cor/raça!
Minha filha é branca, aliás, muito branca, já que todos os meus avós eram judeus poloneses. Entretanto, esta não é sua raça, apenas o tom de sua pele. Ela pertence à raça humana, como todos os seus colegas de turma (dos vários tons de pele).
Na turma da minha filha existem algumas crianças negras. Elas estudam e brincam juntas, recebem as mesmas aulas, vestem o mesmo uniforme e pagam a mesma mensalidade. Até hoje elas provavelmente se achavam iguais, crianças. Agora minha filha e seus coleguinhas saberão que não são mais apenas crianças, são crianças brancas, pardas, pretas ou amarelas (acho que não há índios neste colégio).
Qual será o objetivo de tal programa? Apenas um estudo científico? Duvido. Um estudo precisa de autorização dos estudados e não de uma portaria ministerial. Talvez vise a formar um cadastro racial, obviamente somente com ótimas intenções (das quais o inferno cada vez se enche mais).
Até receber este formulário, a discussão sobre medidas afirmativas e cotas me parecia um pouco distante. Já fiz meu vestibular há muito tempo e meus filhos ainda estão muito longe desta fase. Mas o competente ministério de nosso democrático governo fez o favor de me trazer à realidade. O objetivo é criar uma diferença, mesmo onde ela não exista e não eliminar uma diferença que não deveria existir. Nada como criar um conflito para depois se arvorar como a solução deste mesmo conflito.
As crianças da turma da minha filha são de poder aquisitivo semelhante e estão iniciando seus estudos em um colégio que as educará até o vestibular. Têm óbvias vantagens sobre crianças educadas em nossas sofríveis escolas públicas e sobre crianças de menor poder aquisitivo. Mas este poder aquisitivo não é um crime (ainda não) e não deve ser punido. A cor da pele, então, é um critério ainda mais absurdo para traçar uma política de estímulo educacional.
Talvez queiram nos convencer que alguns dos colegas de minha filha sofreram com a escravidão de seus ancestrais. Isto parece estar afetando sua capacidade de aprendizado tanto quanto o assassinato dos ancestrais de minha filha pelos nazistas, ou seja, de nenhuma maneira.
Nossos governantes, que deveriam estar pedindo desculpas de joelhos aos cidadãos, ao invés de melhorar as condições da educação básica para permitir às crianças de menor poder aquisitivo competir por seu lugar ao sol, com seu próprio esforço, fazem o oposto. Criam programas demagógicos, racistas, baseados em dados falsos ou inexistentes, e não satisfeitos de impô-los aos adultos avançam sobre as crianças. Qual será o próximo programa? Talvez “Mostre sua fé / declare sua crença”?
É muito triste. Este filme já passou e muitos de minha família morreram nele.
SIDNEY GOLDENZON é médico.
Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/jornal/opiniao/168310670.asp
... mas a realidade pode ser bem diferente do que imagina, acredite se quiser! Como os homens podem ser tão burros e desesperados para inventarem religiões e deuses para se auto martirizarem, em troca de uma muleta psicológica para dar sentido à sua vida e aos seus atos. Para quem acredita, acha isso o cúmulo, heresia! Ainda bem que as fogueiras estão em desuso :) Mas também vou escrever/copiar/colar amenidades, nada muito útil, mas o que achar engraçado e interessante. Uma boa vida a todos!
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