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sexta-feira, janeiro 07, 2005

Prova de algo inexistente e outras considerações sobre lógica e argumentação

Comments: Um texto claro e excelente sobre o grande dilema de se provar algo inexistente. O texto está na forma de pergunta e resposta. No início estão as perguntas, e seguindo, estão as respostas.

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PERGUNTAS

- A evolucao eh fato, mas eh uma teoria, e nao se sabe *tudo* sobre o seu "funcionamento". Enfim, apesar dela ser muito mais aceitavel do que qualquer teoria religiosa, ela nao eh 100% solida. Existem lacunas a serem preenchidas que podem vir a mudar a sua compreensao. Sei que muitos podem negar isso, mas eu nao quero negar o acontecimento da evolucao (comprovada por incontaveis e variaveis estudos cientificos), mas sim o que, exatamente, ela nos diz, e o quanto ela nega as religioes.

- Quando alguns criticam Deus, cometem o erro de tirar "provas da sua inexistencia" atraves de contradicoes religiosas. Nao se pode esquecer que Deus eh uma coisa, religiao eh outra.

- Provar inexistencia eh impossivel em muitos casos, portanto, nao podemos ter certeza da inexistencia de Deus. Podemos, no maximo, pensar o quanto eh improvavel que um ser idealizado por humanos de fato exista.

- Por mais que nao exista um Deus que pune, governa, que criou o Universo e tudo mais (por milhares de argumentos que li no forum e, ocasionalmente, usei, isso eh fato), nao podemos esquecer que isso nao nega a existencia de alguma forma de "governo", nem que seja imperfeito.

- Nao somos dogmaticos ao usar o texto das falacias (acredito ser "A Arte Refinada De Detectar Mentiras") como o termometro para as discussoes? Ele nao poderia, ocasionalmente, ter algum parametro injusto?

Enfim, sao apenas algumas questoes que eu acho que seria interesante nos perguntarmos. Nao vamos agir como muitos teistas, que simplesmente ignorar os possiveis erros.


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Seu questionamento é muito interessante e as perguntas são pertinentes. Mas a resposta é simples, elas partem de um engano básico com relação as afirmaçães do tipo "provar a inexistencia é impossível" ou "provas de inexistencia de deus".

Nem a ciência, nem céticos ou ateus fazem afirmações desse tipo, quem as faz são os teistas, distorcendo a posição original, na tentativa de desacreditar adversários.

Veja, o que se afirma é que não existem evidencias de divindades sobrenaturais. Ou, frente a fisica conhecida, necessidade disso. Isso é um bocado diferente de afirmar positivamente que divindades não existem..:-)

Algo altamente improvável e algo inexistente tem bases diferentes. Dentro do atual conhecimento humano sobre o universo, nada indica que existam divindades de qualquer tipo, assim como duendes ou a fada dos dentes. É claro que se amanhã o céu se abrir, os planetas pararem em suas óribtas, o Sol se apagar e uma voz sair do nada e um cara barbudo disser "bem, pessoal, vocês não entenderam nada, vamos começar de novo" minha conclusão sobre a inexistencia de divindades pode mudar..:-)

Mas, até lá, é seguro agir como se não houvesse, já que inexistem evidencias e a probabilidade é desprezivel.

Provar inexistencia também é relativo a negativas genericas, não específicas. Por exemplo, é possível provar que não existem monstros no lago Ness. Talvez não no momento, mas no futuro poderemos usar tecnologia para mapear de forma incontestável as águas com radar e provar que não existem seres do tamanho ou formato afirmado (a não ser os sobrenaturais, mas Nessie e seus apoiadores é do tipo físico..:-).

Isso não prova que não existam monstros, mas apenas que não existem em Loch Ness..:-) É uma prova negativa perfeitamente aceitável.

Fazemos provas negativas todo o tempo, apenas temos de tomar o cuidado para delimitar o alcance. Por exemplo, posso provar, se necessário em juizo, que não estava no local do crime no momento do assassinato.

Não é possível provar que Papai Noel não existe, de forma generica, mas posso provar que determianda pessoa não é Papai Noel, se for o caso.

O mesmo para milagres. Não é possível provar, de forma genérica, que milagres nào existem, mas posso provar que determinado milagre não é real. Com o acumulo de evidencias de irrealidade, posso, com grande segurança, determinar que a probabilidade de exstirem milagres reais é baixa, desprezível.

O problema de deus e do governo é parecido. Deriva de uma falácia comum, que liga uma possibilidade concreta, algo disparou a singularidade que gerou o Big Bang (energia, eletricidade, quantica, alienígenas extra-dimensionais, etc) e liga-lo a uma divindade pessoal, intencional, que deseja ou tem vontades.

As órbitas dos planetas é governada por leis precisas, que não podem ser violadas. Mas estas leis são não-intencionais e nada tem a ver com o sobrenatural.

E as falácias..:-) Falácias são classificações de erros de lógica, que permitem verificar se um argumento tem validade. Não podem ter "parametros injustos" assim como uma chave de fenda não pode ter "parametros injustos"..:-)

Quem apresenta um argumento, contra ou a favor de uma conclusão ou idéia ou alegação (teista ou cético), pretende que este seja válido. Encontrar uma falácia neste argumento não é injusto ou justo, apenas é. Você pode até aceitar um argumento falacioso (e os teistas o fazem o tempo todo) mas não é intelectualmente honesto, nem eficiente em seus desdobramentos.

Por exemplo, de nada adiantaria aceitar um argumento em que se sabe haver uma falácia, se as previsões e desdobramentos desse argumento irão falhar devido a ela.

Não pense nas falácias como arma cética contra teistas. Não são. São ferramentas racionais, para testar argumentos racionais. E devem ser usadas até mesmo por teistas, se pretendem refutar um argumento cético.

Deus e religião.

Apesar de serem diferentees, sua ligação é fundamental. A própria definição de "deus" deriva da religião que escolher. E esta definição é importante para qualquer debate. O que é deus?

Para religiões, não é o criador do universo, ou não é apenas isso. A definição de deus para religiões implica, entre outras coisas, em intenção, desejo e vontades. Ele criou o universo "para" algum fim. Espera que nós, suas criações, ajam deste ou daquele modo. E deve ser sobrenatural, independente de espaço e tempo fisicos. Sem isso, não é mais deus.

Assim, uma energia criadora do universo que tenha feito isso não intencionalmente, não é deus. Ela precisa ter uma intenção, um objetivo, ao faze-lo.

Isso é tão importante que, sem isso, todas as religiões seriam inúteis. Imagine que se descubra que quem criou o universo, não tem nenhuma intenção. Então, todos os dogmas, regras, normas, proibições, premios e castigos, seriam irrelevantes. Rezar seria irrelevante e representantes da divindade na Terra seriam dispensáveis. Pode pensar em uma religião, qualquer religião, que concordasse com isso?..:-)

Um raio, energia, destroi uma árvore. Mas não tem intenção nenhuma nesse ato, nem punir, nem premiar, nem descarregar a raiva ou se vingar da árvore..:-) Eletricidade não é deus..:-)

Assim, se descobrirmos ue uma energia (talvez a eletricidade?..:-) criou o Big Bang (ou alienigenas extradimensionais..:-), não será uma prova da existência de deus..:-)

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